terça-feira, 23 de julho de 2019

olhar

meus conflitos sobre a tua estranheza são teus
teu desagrado não cabe em teus olhos,
que sequer têm a utopia de olhar para os meus
tua força se quebra em nosso encontro
porque existe algo que você não consegue esconder
você finge
e no fundo, fica tão evidente quanto essa tristeza que me causas
teu abraço é solto
parece fruta madura querendo cair
eu admiro tua história, tua fala, teu lugar no mundo
mas tudo seca
só por conta do teu olhar

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

narciso


esses dias eu sou mais do mesmo
apenas um homem branco
o mundo não me cabe mais e você ainda me apronta essa
está bem, eu sou bicha, mas talvez seja só por isso que você não me beija
tua paixão sempre foi clara, e por sinal, bem mais clara que a minha

eu queria poder me permitir mais
e esfregar meu amor em tua cara
e também meu pau, minha boca, meu corpo inteiro
só assim tu irias entender como os teus preconceitos te castram

eu sonhei com o meu corpo, apenas com o meu corpo
e é uma pena tu não ter tido esse meu sonho
porque tu irias gozar por dias seguidos
irias gemer e tremer por noites seguidas

talvez eu tenha sido narcisista, desculpe
mas talvez, também, esta conversa fale mais sobre mim do que sobre você

tu sabias que eu não acredito ainda que eu nunca te peguei?
e me questiono esse amor preso
mais preso do que o teu
e me pergunto o que é que eu estou fazendo comigo
parece que estou apenas escrevendo um mundo só meu

e aí sim, Narciso
e é aí onde está o problema
pois eu não me conecto a ti com o céu, a lua ou o mar
é com meu corpo e te tendo nele

bicho, esse teu sorriso ainda está no meu
esse teu olhar ainda é meu
e tu podes entender isso de qualquer forma, inclusive da tua
porque isso não muda e nunca mudará meu amor

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

quieto

olha aqui
ainda estou no mesmo lugar
eu te chamo a toda hora

eu queria ter que poder sair
eu queria não mais me obrigar
mas essa vida me obriga
o mundo me obriga
esta merda sem caráter e sem vigor
eu poderia tocar fogo em tudo
incendiar
acabar com esse lixo 
chorar, rasgar-me, desfigurar-me
deixa quieto
está fedendo

terça-feira, 31 de maio de 2016

duplo

eu não estou aqui e nem queria estar
parece que viajar na janela só piora
eu vejo tudo, mas tudo está tão longe
tem muita resposta, mas nenhuma serve
o tempo está bom apenas para as mudanças
eu insisto em te ver, mesmo que seja de longe
e me atropelo em teus medos
estou ao teu lado, te seguro firme
você consegue centrar, fixar
mas eu sou levado com o vento
pra bem longe daqui
e me perco dentro de mim
isso sempre acontece, mas não percebemos
e depois de tudo isso, o que vem?
como eu queria te viver
como eu queria que você me vivesse

domingo, 28 de fevereiro de 2016

novo

eu continuo sem saber para onde ir
eu já tentei tanta coisa, e elas apenas voaram,
tem um mundo ai fora pra seguir,
mas o que ele espera de mim?
eu já não me aguento mais dentro de minha rotina
eu preciso rasgar meu corpo todo dia
e fico aqui só falando de mim,
mas é porque preciso me despertar do sono
eu tô no meio do começo do fim…
e a partir de hoje começo a me despedir
de tudo e de todos que já vi
porque amanhã, vou dar boas vindas ao meu novo

terça-feira, 15 de abril de 2014

trabalho

tentando uma viagem pelo mundo,
mas ele não me deixa
e me maltrata com as mesmices tardes,
dias insanos e noites corridas
correr ou ler?
copiar ou viajar?
sentado na beira do lago, prometi-me
eu voei por quilômetros
o mundo balançava
minha rede me acorda
eu caio do quarto andar
desperto num sonho
eu nadei pelos ares
e caía no meu lago
e prometia-me
ai mundo, acolhe-me
já me sinto cansado

trabalho...

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

olhares

você vem me ver e eu te olho
enxergo um sorriso verdadeiro,
com seus olhos apertados e sua boca delicada
percebo o quanto estou vivo e o quanto quero viver
renovo meu lar,
refaço meus caminhos,
aqueço meu trabalho
meu espelho fala que estou mais jovem,
mais bonito, mais sereno, mais parceiro
compartilho meus sonhos, meus utópicos desejos
vejo meteoros e encontro lugares quase inexistentes
descubro sons que o mundo ainda me escondia
dou-me permissão para o mágico, o proibido
a leveza das palavras que assustam o mundo
a ludicidade dos encontros que inquieta as ruas
a luz do sol, a luz da lua, a minha luz
e vou construindo meu mundo
vamos construindo nosso mundo
com estes olhares,
estes verdadeiros olhares
esses olhares verdadeiros

quarta-feira, 26 de junho de 2013

cinzas


de medo em medo,
ela costumava sobreviver
de passo em passo,
ela tentava me esquecer
e não era tão fácil
chorava, chuva
sem saber, sem beber
sem conversas, sem olhares
e quando foi bem perto do dia
ela se tranca em si
escondeu seus segredos,
sua vingança
soltou o verbo
escolheu o fogo
gritou as cinzas
ardia em chamas
sem nenhuma suavidade
apenas sussurros
de uma vida castrada, surrada, nojenta, crônica...

 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

surto

eu caminho e consigo ver
não, não era como imaginava
do fogo à agua, não importa
os sons são os mesmos, não mudam...
eu queria era cair ali,
e nunca mais me levantar
e você vem me falar de voar,
quando o limite é o chão!
um vulcão ilumina meu céu,
e as dores se engasgam
um grito ecoa na esquina mais próxima,
e alguns sangram até amanhecer
sem saber, sem sabor...
não conseguia dizer adeus
os porcos fediam naquela tarde de terça feira
milhares de homens e mulheres nas ruas
suas garras feriam meu rosto limpo
deixa eu rolar até o penhasco,
estou amarrado e assim não vale
deixa eu ficar aqui,
não consigo ver ou vir mais uma vez
naquele dia o sol queimou minhas nuvens,
e tudo que sobrou foi uma névoa
agora sim, cego, estúpido e louco
por segundos, horas, vida
sem sabor, sem saber...
minhas pernas enraízam, enlouqueço
entrego-me,  porque é mais forte
e nasço de dentro de mim
explodo, pedaços, vários
e domino meu mundo, sou centenas, milhares
colonifico minhas terras
em um surto eterno...

segunda-feira, 13 de maio de 2013

eu


eu
aqui sentado, sem sangue ou prisões
eu,
aqui deitado, sem sono ou ilusões
me deixa quieto, desperto
e caminho para além da varanda
sem controle, mas controlado
eu,
que cai na última guerra
que te pintei quadros
que te arranquei as vísceras
que pus fogo em Roma
eu,
sequestrado por um cometa,
e de lá de cima vejo
onde tudo parece ser muito igual
as luzes são poucas
ah cometa... me leva e me mostra  o que seria inmostrável...
...eu!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

letras

olha aqui, minhas letras se movem
e saem deste entranho papel,
folhas sujas e sem vida
minhas letras tomam a liberdade e saem a caminhar,
apenas para te encontrar
em uma viagem alucinógena e transcendental
portais se abrem, completam-se
força, vida, luz, amor, prazer
elas andam entre nossas ruas
e são nossas, nos apossamos,
assim como foi a lua, o sol e as árvores
encontram novidades e decisões
uma estrada certa, num desenho palpável
veja lá, elas flutuam, evoluem
minhas letras param de caminhar, pois criam asas
elas seguem assim, leves,
como você, como eu, como nós
vão colorindo, alfabetizando, pirando a cidade
são seres mágicos,
apenas de olhar, são compreensíveis
e sei que você dorme, pois está tarde,
mas isto não importa para minhas belas letras
elas voam e chegam ai,
penetram em sonhos,
no consciente, no inconsciente, no subconsciente
minhas letras abrem teu sorriso,
mesmo dormindo no meio da madrugada
e incrivelmente depois de tanta viagem,
elas ficam surpresas, impressionadas e felizes
pois já existia um conjunto de eu te amo nestes sonhos



quinta-feira, 4 de abril de 2013

beije


já é tarde, e ainda estamos por aqui,
bebendo do que sobrou
um doce sabor de loucura
uma vida de dons, de sons,
que podem me mover e me fazem pirar
seus beijos brilham e giraram meu mundo,
sem poder nem pensar, mas sincronizados
e mudou minha vida,
minhas verdades e minhas mentiras,
meus sonhos e meus pesadelos
um dia bom, um tempo bom
noites estrelares, tardes solares
chega e me ama
teus carinhos e tuas palavras
tua vida e teus olhares
aqui venta, teus braços esquenta
doses de álcool clareiam minhas nuvens
corpos conectados, abraços sonoros
oh bem, me faz viver!
talvez eu nunca mais reencarne
por isso, me ame como se fosse o fim
não sei onde irei parar
me beije, não sou daqui...

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

outro

foi rápido
em seus olhos, cumplicidade
em abraços, fogo
o belo não está em seu corpo
em seu cabelo, ou em seu rosto
mas em como você me olha
e me conversa
o desejo de fugirmos
nossos sonhos em vermelho
em nossa luta, que canta
e nos faz trabalhar para vivermos
vivermos em nós
e infelizmente, não no outro

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

fogo

ela bateu e eu abri
me visitou por longos meses
longos anos
uma história de me alegrar
de me fazer rir por nada
e em seus sonhos eu pirei
em sua vida viajei
em sua cama eu deitei
das maiores das sensações
ela sempre batia e ganhava
deixava que ele me enfeitiçava
como era repleto, completo
satisfazia minhas dores e doçuras
de gerar, de construir e de crescer
a gente sempre pensa que é pra toda vida
mas pra toda vida é muito tempo
ela se foi, ele com ela
e que possam alegrar mais corações
como foi com o meu
satisfeito e insatisfeito
socialista e egoísta
talvez nunca ela chegará de novo
dele eu já sei
e espero estar pleno
e morrer com o gozo de uma vida vivida
por todos estes laços
me amarro e me afogo
no fogo de um amor...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

20, 21

ele me traz noticias,
que rasgam minha pele
justamente agora,
quando meus joelhos doem
as flores foram arrancadas
e tudo foi queimado
não poderia ser de outro jeito
chove em minha alma,
mas eu estou aqui
tô de pé,
sentindo o vento
que me visita em segurança
neste dia enfadonho
chega pra cá,
os controles estão comigo
uma festa me espera
um favor que faço
e desligo alguns
minha mente não suportaria
deixo que 20 chorem
e que 21 sorriem
nestes traços de foguetes
que decolam e voam, voam, voam...

domingo, 2 de dezembro de 2012

cartas


já cansei de esperar, mas as vezes não dá
me olho e não vejo,
não é só isso mesmo,
eu teimo e volto pra lá
deixa desenterrar o que há
eu sei o que é
mas você finge não ver
suas cartas não vão enganar
o que seus olhares e toques falam,
nosso silêncio é taquilálico
as estranhezas não são coincidência
foi seu medo que quis assim,
vamos lá... eu sei, mas não falo
me cansa só de pensar,
o que muda é o agora
não seguirei, já quebrei